A Reforma Protestante Ontem e Hoje
“Visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé” Rm 1.17
A Idade Média (600 a 1453 d.C.) foi um período longo e que marcou a história da igreja cristã como a Idade das Trevas. Uma época em que a Igreja Cristã praticamente não avançou nada em relação ao que fora feito no tempo da Igreja Primitiva (Sec. I) e da Patrística (Sec. II ao VI). As causas para a perda do brilho da igreja são variadas, mas a principal delas foi a união entre Igreja e estado, iniciada com o imperador Constantino. Com isso, a igreja deixou de expandir suas fronteiras uma vez que todo o império se declarava cristão; também a igreja parou de discipular seus membros, perdendo a vitalidade espiritual e a qualidade de vida moral; por fim a igreja cristã acabou incorporando vários elementos das religiões romanas à sua fé. A igreja foi tomada de misticismo, os deuses romanos viraram os santos católicos, adotou-se a crença no purgatório, a doutrina de que Maria era imaculada e a afirmação de que somente na igreja haveria a salvação. Ao lado e muitas vezes acima da Bíblia foi colocada a tradição da igreja.
Martinho Lutero
Ao longo dos anos houve tentativas de corrigir os rumos da igreja, mas todos que se levantavam com uma voz de confrontação eram perseguidos (John Wycliff) e mesmo mortos (John Hus e Jerônimo Savonarola). A inquisição tornou-se o braço de ferro da igreja. A igreja se fechou para qualquer alerta, mesmo que fosse da Palavra de Deus. As pessoas não liam a Bíblia, a não ser os teólogos e os monges.
Alderi Matos alista alguns elementos que caracterizavam a sociedade europeia às vésperas da Reforma. Havia muita violência, baixa expectativa de vida, profundos contrastes socioeconômicos e um crescente sentimento nacionalista. Havia também muita insatisfação, tanto dos governantes como do povo, em relação à Igreja, principalmente ao alto clero e a Roma. Na área espiritual, havia insegurança e ansiedade acerca da salvação em virtude de uma religiosidade baseada em obras, também chamada de religiosidade contábil ou “matemática da salvação” (débitos = pecados; créditos = boas obras).
O estopim do movimento que veio a se chamar Reforma Protestante foi a decisão do Papa Leão X de autorizar uma venda especial de indulgências (o perdão das penas temporais do pecado) que seriam para ajudar nas obras da Catedral de São Pedro em Roma e outra parte para uma rica família alemã pagar uma dívida. O encarregado de vender as indulgências foi João Tetzel. Quando Tetzel aproximou-se de Wittenberg, Lutero resolveu pronunciar-se sobre o assunto.
Martinho Lutero era monge agostiniano, doutor em Teologia e professor de teologia na Universidade de Wittenberg. Em 1512 ele passou pelo processo de conversão ao compreender através de Romanos 1.17 que a justificação do pecador se dá pela fé e não pelas obras. No dia 31 de outubro de 1517, diante da venda das indulgências por João Tetzel, Lutero afixou à porta da igreja de Wittenberg as suas Noventa e Cinco Teses, a maneira usual de convidar-se uma comunidade acadêmica para debater algum assunto. Logo, uma cópia das teses chegou às mãos do arcebispo, que as enviou a Roma. No ano seguinte, Lutero foi convocado para ir a Roma a fim de responder à acusação de heresia. Recusando-se a ir, foi entrevistado pelo cardeal Cajetano e manteve as suas posições. Em 1519, Lutero participou de um debate em Leipzig com o dominicano João Eck, no qual defendeu o pré-reformador João Hus e afirmou que os concílios e os papas podiam errar.
Lutero foi excomungado pela Igreja Romana. Houve tentativas de abafar o movimento, mas era algo inevitável, milhares de pessoas aderiram à reforma de Lutero e em pouco tempo era um movimento que atingia toda a Europa. Na Alemanha a reforma gerou a Igreja Luterana. Anos depois surgiu João Calvino, que diferiu de Lutero em algumas partes e formulou a doutrina calvinista, que a Igreja Presbiteriana adotou e assume até os dias de hoje. Lutero e os demais reformadores defenderam alguns princípios básicos que viriam a caracterizar as convicções e práticas protestantes: Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Gratia, Sola Fide, Soli Deo Gloria, ou seja: Somente a Escritura, Somente Cristo, Somente a Graça, Somente a Fé, Somente a Deus a glória. Outro princípio aceito por todos foi o do sacerdócio universal dos fiéis.
Através
da Reforma houve um grande impulso na Imprensa e o principal livro a ser
impresso foi a Bíblia. Com a Bíblia nas mãos, as pessoas puderam ter o
conhecimento da Palavra de Deus e muita coisa mudou na vida prática das
pessoas. Houve uma grande revolução social. Escolas foram fundadas, hospitais
foram abertos, houve um despertamento para o progresso.
Um
dos lemas da Reforma foi: Igreja reformada sempre se reformando. Este lema é um
alerta, pois a igreja de Cristo enquanto estiver aqui na terra nunca atingirá a
perfeição, e sempre correrá o risco de se contaminar e corromper, por isso, temos o alerta para continuarmos sempre firmados na
doutrina da Palavra de Deus, sempre observando os erros e nos dispondo a
corrigi-los. Precisamos sempre observar o mandamento do amor a Deus e ao
próximo, o chamado à santificação, o desafio missionário, a busca pelo Reino de
Deus e tantas outras áreas da nossa vida espiritual. Ao relembrarmos a reforma
protestante possamos assumir uma posição de coragem e ousadia diante de um
mundo em crise.
Comentários
Postar um comentário